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  • Psicologia

A ERA DO ISOLAMENTO SOCIAL E O CONSUMO DE ÁLCOOL: UMA QUESTÃO SOCIAL E MENTAL

Sousa, Marcio H. M.










RESUMO

As recentes mudanças geradas pelo impacto do surgimento do COVID-19 trouxeram consigo a importância de se pensar na saúde mental. Não somente do individuo (singular), mas, do grupo, da família (da pluralidade). Se houver algum protagonista em cena, esse protagonista tem um nome, saúde mental. O aumento no consumo de álcool por dependentes em isolamento social e a vulnerabilidade decorrentes da ansiedade e estresse passa a estarem em evidência. Quais seriam os impactos diante do consumo em excesso por pessoas classificadas no grupo considerado de risco, como jovens, mulheres e idosos, lembrando que este artigo não faz referência ao grupo de risco de contaminação e sim de agravamento do quadro mental/psicológico dos que já possuem um diagnóstico de alcoolismo ou outro tipo de transtorno. Segundo Edwards (1995) o álcool é uma droga capaz ao menos em curto prazo dispersar sentimentos desagradáveis como angustia ou depressão por exemplo. E por ser uma substância psicoativa tem a capacidade de alterar os sentidos auxiliando de maneira negativa o enfrentamento de uma situação considerado insuportável, desagradável, difícil por aquele que faz uso. E inúmeros motivos podem estimular o consumo, desde um estresse até mesmo um enfrentamento do sentimento de solidão.

Objetivo: Este artigo tem por objetivo apresentar a relação do isolamento social com o aumento do consumo de substância química não somente por pessoas do grupo diagnosticado alcoólatra, mas como também de diferentes faixas etárias que não estão inseridas grupo dos vulneráveis. E de uma forma geral descortinar um problema que se situa além do campo social.


Palavras-chave: alcoolismo, saúde mental, isolamento social.


INTRODUÇÃO


O álcool é classificado como uma substância psicoativa, ou seja, ela tem o potencial de alterar o psiquismo e faz parte do grupo das drogas psicodélicas ou depressoras do Sistema Nervoso Central e segundo a OMS é a substância psicoativa mais consumida no mundo. Culturalmente no Brasil adotam-se precocemente o hábito da ingestão de álcool e os estímulos são escancarados nas publicidades vinculadas nas grandes mídias. Não podemos ignorar o nível de facilidade e disponibilidade na efetivação da compra, nitidamente em grandes periferias onde em cada esquina pode ser encontrado um bar sem qualquer tipo de fiscalização. O consumo precoce e continuo pode desencadear em transtorno. O transtorno causado pelo consumo do álcool tem seu diagnóstico classificado no CID-10 (Código Internacional de Doença) como pode ser observado na lista a seguir. F10.0 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - intoxicação aguda. F10.1 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - uso nocivo para saúde. F10.2 Transtornos Mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - síndrome de dependência. F10.3 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - síndrome [estado] de abstinência. F10.4 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - síndrome de abstinência com delirium. F10.5 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - transtorno psicótico. F10.6 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - síndrome amnésia. F10.7 Transtorno mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - psicótico residual ou instalação tardia. Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - outros transtornos mentais ou comportamentais. F10.9 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool - transtorno mental ou comportamental não especificado. O surgimento do conceito alcoolismo já vinha sido abordado anteriormente pelo médico Thomas Trotter em 1804 que declarava a embriagues habitual como uma doença, disse ele:


“Em linguagem médica, considero a embriaguez, estritamente falando, uma doença, produzida por uma causa remota e dando origem a ações e movimentos no corpo vivente que desordenam as funções da saúde”.



Os riscos de declínio


Dados disponibilizados pelo ministério da saúde aponta que cerca de 17,9% da população adulta fazem uso abusivo de bebida alcoólica no Brasil. Segundo a OMS o alcoolismo é tido como uma doença complexa no qual o álcool atua como fator determinante sobre as causas psicossomáticas preexistente no individuo (Oliveira & Luis,1997). Com o surgimento da pandemia (COVID-19) essa parcela da população passou a ser um grupo de vulneráveis na medida em que esses já possuem um possível diagnóstico. Não somente por esse fator, porém, pessoas que são mais suscetíveis a fatores de estresse, ansiedade, angustia ou depressão e consomem bebidas alcoólicas como meio de amenizar ou lidar com o quadro/situação também encontram nesse grupo. O isolamento obrigou grande parte da população a mudarem de forma radical a sua rotina, não somente com a diminuição da jornada de trabalho ou a perda do emprego ou até mesmo o receio de ser contaminado, mas, acima de tudo a indisponibilidade de autonomia, afetando diretamente no estado de humor. A pandemia e consequentemente com ela o isolamento pode vir a se tornar um fator de risco no aumento de possíveis transtornos, ascendendo assim, um sinal de alerta. Transtornos psicológicos ligados a solidão, estresse etc. são potenciais fatores que de alguma maneira emergem no cenário de isolamento. É o que apontou a pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que destacou que:


18% relataram aumento no uso de bebidas alcoólicas durante a pandemia. O maior aumento ocorreu entre as pessoas de 30 a 39 anos de idade (26%). Esse crescimento foi associado à frequência de se sentir triste ou deprimido: quanto maior a frequência, maior o aumento do uso de bebida alcoólica. https://agencia.fiocruz.br/fiocruz-mapeia-comopandemia-afeta-vida-dos-brasileiros; Acesso em 24/05/2020

O risco do consumo excessivo do álcool não está apenas relacionado no fator mental, pois de acordo com a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) o excesso está diretamente ligado ao enfraquecimento do sistema imunológico e com isso a diminuição da capacidade de combater doenças, inclusive as infecciosas (COVID-19). Os números aqui apresentados retratam parte da sofrida realidade de muitos brasileiros que enfrentam dificuldades no âmbito emocional e recorrem ao consumo de álcool podendo assim gerar transtornos que podem agravar ainda mais o seu estado. Outros dados indicam que durante o período de isolamento foi desencadeado outros fenômenos, incluindo o aumento de violência doméstica o que pode se perceber aqui é o transtorno em cadeia, ou seja, o transtorno de um integrante da família atinge diretamente todos os demais, constituindo uma espécie de angustia coletiva. É de se saber que o transtorno mental aparece por questões multifatoriais, fortalecendo a idéia que o contexto tem uma contribuição direta no surgimento. O cenário é visto como preocupante por especialistas levando em consideração o estado precário de diversas famílias onde a falta de recursos e suportes para o enfrentamento é iminente e que se exige uma estrutura psicológica para dura realidade em que se submetem no quais, muitos se encontram desencorajados. Abordar o alcoolismo se torna bastante relevante em período de pandemia devido ao fato das alterações de humor ser vigente e os riscos sobre os malefícios das complicações serem visíveis e acima de tudo preocupantes, classificando-se como um problema de saúde pública. Vale ressaltar que o uso exagerado ou problemático de substâncias alcoólicas é diretamente responsável por grande parte de incapacidade produtiva. . E o que pode ser salientado até o presente momento é que houve um aumento significativo na ingestão de álcool correlacionado a questões de humor. A necessidade de redobrar o nível de atenção para esse grupo com intuito de minimizar o grau de risco em larga escala é de fundamental importância na medida em que a manutenção da vida, do estado emocional e da boa alta estima, pode assegurar o prolongamento da estabilidade psicológica.


O propósito geral deste trabalho foi divulgar o que está ocorrendo com uma parcela de brasileiros durante o período de pandemia. No qual o álcool passou a ser ou a permanecer uma alternativa para recorrerem como auxilio no enfrentamento de sentimentos como angustia, tristeza, solidão etc. Evidenciar um problema social, onde o Brasil é classificado entre os países que mais consomem álcool na América Latina e em conjunto apresentar o risco e a vulnerabilidade de muitos diante do isolamento levando em consideração recentes dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) classificando o Brasil como o país mais ansioso do mundo, onde cerca de mais de dezoito milhões de brasileiros sofrem de transtorno de ansiedade, ou seja, patológica. Com parte do retrato apresentado pode-se notar a urgência em criar medidas institucionais seja ela do âmbito federal, estadual, municipal ou até mesmo privado, na criação de grupos de atendimento e acolhimento por meio de plataformas online na construção de medidas 5 preventivas que viabilize e flexibilize a interação entre pacientes que se encontram no grupo de risco e profissionais de forma gratuita.




REFERÊNCIAS


Ketcham, J. R. (1986). Alcoolismo os mitos e a realidade. São Paulo: Nobel.


Messas, G. (2006). Álcool e Drogas: Uma visão fenômeno - estrutural (Vol. 1). São Paulo: Casa do psicólogo.


https://agencia.fiocruz.br/fiocruz-mapeia-como-pandemia-afeta-vida-dos-brasileiros


https://cisa.org.br/images/upload/Panorama_Alcool_Saude_CISA2020.pdf


https://www.mackenzie.br/fileadmin/OLD/47/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/boletins/1/ artigo3.pdf


https://jornal.usp.br/atualidades/brasil-e-o-pais-mais-ansioso-do-mundo/


https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45613-consumo-abusivo-de-alcoolaumenta-42-9-entre-as-mulheres


Analice GigliottiI; Marco Antonio Bessa (2004). Síndrome de Dependência do Álcool: critérios diagnósticos doi.10.1590/S1516-44462004000500004


Andrezza Fontes Neliana Buzi Figlie Ronaldo Laranjeira (2006). O comportamento de beber entre dependentes de álcool: estudo de seguimento doi: 10.1590/S0101-60832006000600003 https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1174.pdf

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