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O IMPACTO DO ISOLAMENTO SOCIAL NA OCORRÊNCIA DE ANSIEDADE

Leite, Giovana Marina Leponi.





RESUMO

O texto presente tem por objeto apontar as características do distanciamento social adotado como forma de diminuir o contagia pela COVID-19 que interferem diretamente na saúde mental dos indivíduos que vivenciam a situação atual. Considerando o desenvolvimento da ansiedade por quadros excessivo de medo e tensão, e caracterizado a uma resposta emocional a esses estímulos, o cenário atual da pandemia causada pelo COVID-19 e as mudanças sócias causadas pelo isolamento, influenciam a ocorrência de casos de ansiedade.



INTRODUÇÃO


O presente trabalho trata sobre como a interferência dos hábitos do isolamento social aumenta o desenvolvimento da ansiedade nos indivíduos e prejudica o equilíbrio da saúde mental em perspectiva ao olhar da abordagem biopsicossocial. Inicialmente, abordamos superficialmente a definição do modelo biomédico, que considera tanto os aspectos psicológicos quanto as questões biológicas e sociais para compor a definição do conceito de saúde-doença. No segundo capítulo exploramos o conceito de ansiedade, como ela pode variar de uma característica momentânea a um transtorno psicopatológico e os sintomas que acarreta a saúde física e mental. Apresentamos como o isolamento tomou forma na maioria da sociedade atual devido a pandemia do novo Coronavírus (Sars-Cov-2), que se disseminou globalmente no ano de 2020, levou a maior parte dos países do mundo a adotarem medidas para a prevenção e redução do contágio da doença, a COVID-19. Dentre as medidas adotadas está o distanciamento social.


O MODELO BIOPSICOSSOCIAL


A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), ferramenta desenvolvida pela Organização das Nações Unidas, Propõe uma abordagem

denominada biopsicossocial, usada para indicar uma integração entre várias dimensões da saúde.

O modelo biopsicossocial de funcionalidade e incapacidade da OMS admite uma complexa interação e uma completa multidirecionalidade entre os componentes de transtorno e doença, fatores ambientais e fatores pessoais. Contrapondo o modelo Biomédico, que considera a saúde como ausência de doenças e centra-se nas ações curativas e na atuação médica, fazendo a separação entre mente e corpo e dividindo saberes e especialidades.

O conceito de saúde e doença, através do modelo biopsicossocial, considera a

interação das questões biológicas, psicológicas e sociais do individuo. Neste conceito, o

corpo humano é visto como um organismo psicológico e social.



CARACTERÍSTICAS DA ANSIEDADE


A ansiedade é um conceito que historicamente tomou varias formas e definições,

referenciada em diferentes posicionamentos sobre psicopatologias.

Spilberg (1981) divide a Ansiedade em duas formas: como um estado e como um

traço, que pode variar de pessoa para pessoa e em níveis de elevação suscetíveis a

intensificação em situações entendidas como ameaçadoras. Sobre a ansiedade, Spileberg considera:


“Sempre que uma pessoa considera uma situação como sendo ameaçadora, ela experimenta um aumento de ansiedade como estado emocional. Os estados de ansiedade consistem em desagradáveis sensações de tensionamento, apreensão, nervosismo e preocupação que servem para alertar as pessoas para a necessidade de fazer em face de tensão. Já que numerosos tensores são encontrados diariamente na vida, todo mundo experimenta estados de ansiedade uma vez ou outra. Essas reações são perfeitamente normais e geralmente adaptativas, portanto mobilizam o indivíduo no sentido de evitar o perigo” (SPILBERGER 1981, p. 90)

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), classifica como

transtorno de ansiedade transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura.

Um transtorno ansioso pode apresentar sintomas físicos, como dores musculares, sudorese, taquicardia e tremores, e sintomas psíquicos como tensão e nervosismo aumentados e dificuldade de concentração.

O diagnóstico, por sua vez, quando se refere ao transtorno ansioso e seguindo o modelo biopsicossocial, deve levar em consideração não apenas os sintomas apresentados, mas buscar a causa psíquica que levou a alteração do comportamento e por consequente o surgimento da patologia. Essa busca não se limita ao indivíduo, uma vez que o funcionamento psíquico baseia-se na interação de elementos biológicos, psicológicos e sociais. Precisa, portanto, contemplar a avaliação das condições ambientais em que vive, das características culturais em que está inserida, o cenário social do seu dia a dia, o familiar, e como estes fatores interferem na sua psique, no seu organismo e no equilíbrio da saúde mental, contribuindo, neste caso, com o desenvolvimento de um transtorno ansioso.



A COVID-19


A organização mundial da saúde (OMS) foi alertada em dezembro de 2019 sobre casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China. As autoridades chinesas confirmaram em Janeiro de 2020 que se tratava de um novo tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2, que nunca havia sido identificada em seres humanos. O novo coronavírus é o responsável por causar a doença COVID-19.

Em março de 2020 a OMS reconheceu a COVID-19 como uma pandemia, caracterizada pela existência de surtos em varias regiões do mundo. A doença pode ser transmitida, principalmente, por meio das gotículas de uma pessoa infectada que passam de uma pessoa para a outra, além de tocar os olhos, nariz ou boca após o contato com objetos e superfícies infectadas.

Diante da necessidade, em geral de preservar os indivíduos, medidas de controle e prevenção da doença foram tomadas pelas autoridades em esferas administrativas do governo federal, governos estaduais e municipais e, ainda que heterogêneas no território nacional se convergem na adoção da prática do distanciamento social. A prática do distanciamento, ou isolamento social, é incentivada por ações como a aplicação de estratégias de controle da mobilidade da população, o fechamento de escolas e universidades, do comércio não essencial, e de áreas públicas de lazer, objetivando atenuar a velocidade de contágio a prevenção da COVID-19.


RELAÇÃO COVID E ANSIEDADE


À medida que os transtornos de ansiedade incluem quadros clínicos caracterizados

pelo excesso de medo e ansiedade como uma resposta emocional é uma ameaça – ou possível ameaça – o cenário atual da pandemia causada pelo COVID-19 pode influenciar

intensamente a ocorrência de transtornos ansiosos.

A grande quantidade notícias, número de casos, óbitos, a gravidade da doença, são

encaminhadas como um turbilhão de informações sobre a população causando tensão e medo sobre uma expectativa do que pode inevitavelmente acontecer, consigo mesmo, sua família, seus entes queridos. O medo de ser infectado pelo vírus e a falta de conhecimento sobre suas características são fatores que afetam o estado de saúde mental dos indivíduos que vivenciam este período.

As medidas preventivas necessárias para controlar a disseminação do vírus, como a

paralisação de serviços para promover o isolamento social, pode acabar se tornando uma fonte de preocupação para as pessoas por interferirem em seu meio de subsistência, qualidade de vida e planejamentos pessoais. Um estudo comparativo entre um período normal (sem pandemia) e o período pandêmico, realizado com estudantes portugueses confirmam um aumento significativo nos níveis de ansiedade.

O distanciamento físico incumbe ao desenvolvimento de ansiedade também por impedir o tocar, beijar e abraçar as pessoas próximas, o que no momento de angustia e

medo seria tranquilizador e que, normalmente já se caracteriza como uma necessidade do ser humano.

Alterar a rotina a qual está acostumado, lidar com novos hábitos e a preocupação

constante de manter a higiene, lavar as mãos tantas vezes, ou ainda se ver em uma situação grave a nível mundial onde o que se pode fazer é algo limitado a “apenas” lavar as mãos e se distanciar, criando para muitos um sentimento de impotência e vulnerabilidade compõem um quadro de exposição à uma carga de tensão que potencialmente acarreta a elevação de níveis de ansiedade.

A frustração de se manter isolada pode ser amenizada pelo uso da tecnologia, que

no dia a dia normal já facilita o contato com quem está distante. Para uma pessoa que

segue um tratamento terapêutico, há a possibilidade de seguir a terapia online mantida

como essencial para lidar com o excesso de medo e ansiedade. O conselho Federal de

Psicologia, através da Resolução CFP n° 04/2020, publicada em 26 de março de 2020,

permite a prestação de serviços psicológicos de forma remota, por meios de tecnologia da informação e comunicação, buscando miniminar os impactos negativos da COVID-19 no equilíbrio da saúde mental.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


Todas as condições ambientais e sociais que influenciam normalmente o psicológico do indivíduo podem, com o estresse e ansiedade que formam o cenário causado pela pandemia, podem aumentar o desenvolvimento de transtornos ansiosos. Tratar a ansiedade ansioso no momento de isolamento social requer ainda mais cuidado e atenção.

Não mergulhar no mar de informações que vem de várias fontes incertas carregando uma onda de estresse e tensão prejudiciais a saúde. Seguir as recomendações de isolamento e higiene como fundamentais, mas não estreitar suas vivencias diárias somente a relação com pandemia, procurar manter uma rotina, ainda que adaptada ao permitido, estruturando o seu dia de forma produtiva e que tenha resultados prazerosos para si, dispersando o foco da ansiedade; desenvolver atividades saudáveis, hobbies, e preservar regulares as suas tarefas. Durante esse período de estresse, é preciso direcionar atenção especial aos sentimentos e demandas internas, procurando manter em equilíbrio a saúde mental.



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