PEREIRA, RAFAEL DE GRANDE COELHO; FERNANDES, CAROLINA LARISSA DOS SANTOS.
Resumo
O presente trabalho busca compreender a relação entre doenças psíquicas, como a depressão nos adolescentes durante o isolamento e ou distanciamento social, investigando o possível aumento de sentimentos como o de solidão e ansiedade nesse período. O trabalho fora organizado visando primeiramente à contextualização com o vírus causador da pandemia, seguido do esclarecimento sobre a ansiedade, vulnerabilidade presente na adolescência e encerrando com a relação entre solidão e depressão.
Palavras-chave: Adolescência- isolamento- solidão e depressão.
Pandemia e isolamento social
O ano de 2020 trouxe a necessidade de se conhecer o significado de alguns termos pouco utilizados fora das salas de aulas ou da linguagem acadêmica e, de repente, se fez necessário saber o que era isolamento social, pandemia ou o tão falado achatamento da curva para poder compreender um simples noticiário, mas antes disso, o mundo conheceu uma nova palavra que daria origem a necessidade de conhecer todas as outras, o famigerado Coronavírus.
Um vírus que se modificou e pulou de um animal, provavelmente o pangolim, para o humano devido ao contado com animais selvagens para comercialização, o paciente inicial foi diagnosticado em Wuhan, na província de Hubei, na China, em 1 de dezembro de 2019, mas reportado somente em 31 de dezembro do mesmo ano. Esse vírus causa a doença COVID-19 uma doença respiratória aguda para a qual a humanidade não tem nem a vacina, nem a cura além de se espalhar rapidamente.
Em uma escalada vertiginosa, o vírus se espalhou pelo mundo, e para entender como isso se deu cronológica e geograficamente lista-se abaixo algumas datas e acontecimentos. Em janeiro a OMS confirma que o novo coronavírus foi isolado pela China, e no dia 13 é confirmado o primeiro caso fora da China, na Tailândia, no dia 15 no Japão, 21 EUA, dia 22 a província de Hubei com 18 milhões de pessoas é isolada, dia 25 Europa e Oceania também confirmam casos , dia 28 Alemanha e Japão tem casos confirmados de pessoas que não estiveram na China, dia 30 de janeiro a OMS(organização mundial da saúde) declara surto como caso de emergência de saúde pública internacional no dia 26 de fevereiro chega ao Brasil, no dia 28 a África, o número de infectados sobem de alarmante e diversos países declaram epidemia e situação de emergência e 11 de março a OMS, finalmente, declara doença Covid-19 como pandemia.
Pandemia é uma epidemia (doença de caráter transitório, que ataca simultaneamente grande número de indivíduos em uma determinada localidade) de grandes proporções se espalhando por vários países e atingindo mais de um continente, o exemplo mais expressivo que se tem é o da "gripe espanhola", que causou a morte de cerca de 20 a 50 milhões de pessoas no mundo.
Ansiedade crescente
O coronavírus não tem cura e se propaga muito bem entre humanos, e por isso, a melhor medida de prevenção que existe hoje é o afastamento social para ocorrer o achatamento da curva de infectados e o sistema de saúde não fique sobrecarregado, então a sociedade hoje vive um grande desafio, o de aprender a viver longe das pessoas que gostam, sem poder fazer as tarefas que estavam acostumados, o isolamento provocou o fechamento de escolas, universidades, parques e comércios, as viagens não são permitidas e grande parte dos trabalhadores está em casa afastado ou em home office, as maneiras costumeiras de estudar, trabalhar, se divertir, enfim de viver, foram modificadas forçosamente de uma hora pra outra, essas incertezas provocam um aumento nos níveis de ansiedade. Tess (1996) aponta que a ansiedade representa um sinal de alerta que adverte sobre perigos iminentes, capacitando o indivíduo a gerar e tomar medidas para enfrentar uma ameaça, caracterizando-se por ser uma resposta a uma ameaça vaga, sem uma origem objetiva e voltada para o futuro.
O atual cenário gera diversas incertezas a respeito de variados aspectos da vida cotidiana como: ainda terei trabalho após a pandemia? Como faço para lidar com meus pais em casa? Será que meu relacionamento vai resistir à distância? Vou estar preparada para o ENEM? Entre outras, para Marks (1987), a ansiedade faz parte dos sentimentos normais de uma pessoa, tornando-se patológica quando é desproporcional à situação que a desencadeia ou quando não existe um objeto específico ao qual se direcione. Essa falta de perspectiva faz com que as pessoas tenham seus níveis de ansiedade aumentados e passem a estender essas preocupações para outros problemas não relacionados diretamente com o isolamento, retroalimentando a ansiedade e tendo uma piora no quadro, podendo evoluir para um transtorno de ansiedade e outras psicopatologias.
Adolescência e vulnerabilidade psíquica
Adolescência, do latim adolescere, significa ‘’brotar’’. Segundo G Stanley Hall, ela se configura em um período distinto entre a infância e a fase adulta, definida por ele na idade de 13 a 19 anos.
Para a psicanálise, o sujeito se constitui psiquicamente no encontro com o outro tornando fundamental os processos de socialização e desenvolvimento de vínculos ao longo de sua existência. A respeito da infância, podemos ter um exemplo de construção individual mediante interação através de um experimento realizado por Harry Harlow. Muitos psicólogos defendiam a ideia do “amor interesseiro” caracterizado pelo apego dos bebês aos seus responsáveis apenas porque eles satisfaziam suas necessidades, no entanto, Harry Harlow refutou essa concepção através de seu experimento. Sua pesquisa consistia em separar filhotes de macaco rhesus de suas mães e oferecer mães substitutas, uma feita de arames ligados a uma mamadeira e a outra de pano, mas sem mamadeira, o resultado foi uma maior afeição e apego dos macacos pela mãe de pano em relação à mãe provedora, ou seja, somos por natureza seres sociais ( william glasser 1925-2013) e necessitamos das interações e contato com outros indivíduos, seja no início de nossa vida no contato com a mãe, ou ao longo dela com outras relações estabelecidas.
G. Stanley Hall (1844-1924) sobre a adolescência ‘’Durante esse período selvagem e anárquico os adolescentes ficam a cada dia mais sensíveis, inconsequentes e autocríticos com tendências depressivas’’ ou seja, os sentimentos depressivos ou ansiosos resultantes de uma autocrítica elevada já constituem o período da adolescência tornando-os mais vulneráveis a adoecimentos psíquicos.
Relação entre solidão e depressão
Tyler et al. (2011) define solidão como uma condição psicológica debilitante, caracterizada por um profundo sentimento de isolamento social, vazio e ameaça pessoal. Trata-se de uma resposta emocional ao isolamento social que pode incluir ansiedades sobre a falta de conexão ou comunicação com outros indivíduos, e suas causas podem ser provenientes de fatores sociais, mentais, emocionais, etc. Segundo o estudo conduzido por Van Winkel, em relação ao papel desempenhado pela solidão na depressão, notou-se a prevalência da solidão como fator precursor ao surgimento da depressão, demonstrando a relação entre elas. Ainda nesse estudo, averigou-se a solidão, a pior percepção dos relacionamentos sociais e os longos períodos de tempo passados sozinho, como fatores associados ao transtorno depressivo.
Um estudo feito pelo Instituto de psicologia da Universidade do estado do Rio de Janeiro constatou um aumento nos números relacionados à depressão, onde uma porcentagem que era de 4,2% teve o dobro de aumento, subindo para 8,0% desde o inicio da quarentena.
Todavia, frente a vigente situação pandêmica e consequentemente de isolamento social, alterações na rotina se fazem necessárias para que a saúde mental e física sejam mantidas, por isso, o aconselhamento das areas de saúde é de que as pessoas, em um âmbito geral, busquem adequar-se a realidade momentânea praticando atividades físicas, mantendo sua rede de vínculos socioafetivos ativos, ainda que virtualmente e mantendo uma dieta saudável, etc.
Sendo assim, podemos concluir que as discussões sobre as relações entre o sentimento de solidão, depressão e isolamento social são extremamente relevantes para o cenário atual, pois as consequências desse distanciamento são palpáveis e preocupantes dentro de um contexto de conscientização e adaptações, e compreender esse cenário é fundamental para modifica-lo.
Referências
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/05/09/estudo-indica-aumento-emcasos-de-depressao-durante-isolamento-social
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010237722019000100527&lng=en&nrm=iso&tlng=pt#B39
https://www.abc.med.br/p/psicologia-epsiquiatria/1326578/sentimentos+de+solidao.htm
https://www.vittude.com/blog/fala-psico/ansiedade-em-tempos-de-isolamentosocial/
O livro da Psicologia- editora globo livros, pg 46
Marks, I. M. (1987). Fears, phobias and rituals. New York, NY: Oxford University Press.
Tess, V. L. C. (1996). Disfunções sexuais em pacientes com transtorno de pânico com e sem agorafobia. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.